16 junho 2006

Jornalismo













É...parece que não gostam mesmo da gente...hahaha.










1)MANDAMENTOS DO JORNALISMO


1º – Não terás vida pessoal, familiar, social ou sentimental.

2º – Não verás teu filho crescer.

3º – Não terás feriados, fins de semana, férias, ou qualquer outro tipo de folga.

4º – Terás gastrite, se tiveres sorte. Se fores como os demais, terás úlcera.

5º – A pressa será tua única amiga, e as suas refeições principais serão os lanches, as pizzas e o China in Box.

6º – Teus cabelos ficarão brancos antes do tempo; isso, se te sobrarem cabelos.

7º – Tua sanidade mental será posta em cheque várias vezes antes que completes cinco anos de trabalho.

8º – Dormir será considerado período de folga; logo, não dormirás.

9º – Trabalho será teu assunto preferido; talvez o único.

10º – A máquina de café será a tua melhor colega de trabalho, porém, a cafeína não te fará mais efeito.

11º – Terás sonhos com fontes e chefes, e, não raro, resolverás problemas de trabalho neste período de sono.

12º – Exibirás olheiras como troféus de guerra.

13º – E o pior: inexplicavelmente, gostarás de tudo isso.






2)MISSÃO JORNALÍSTICA (ALEXANDRE MARINO)



Repórter que se preza tem sempre uma boa fonte sussurrando "as últimas".

Na ante-sala do gabinete de um ministro, um jornalista muito branco e de olheiras (é o estilo dark involuntário) aguarda ser atendido para uma entrevista, enquanto sonha com uma viagem ao exterior e uma casa própria no Lago Norte. Trêmulo, vai aos poucos enchendo um cinzeiro com alguns anos de vida a menos. Está condenado a morrer de infarto, mas atingirá a glória da profissão mais narcisista que existe, depois dos cabeleireiros. Não é apenas um jornalista: é um jornalista político que vive em Brasília e trabalha numa grande sucursal, e imagina que os grandes nomes do poder muito o respeitam.

É um paranóico, mas não liga – ou, dependendo do grau da paranóia, já nem sabe disso mais. Não tem tempo para ir ao cinema ou ver um show de música popular, mas cultiva um hábito muito comum nas redações brasilienses: pelo menos duas ou três vezes por semana vai almoçar com a "fonte" (um bem informado funcionário do poder, que não é amigo mas é útil, porque sabe das coisas).

O jornalismo em Brasília é uma paranóia só. O centro nervoso da Capital é o Eixo Monumental. Começa morno no Palácio do Buriti, sede do governo local, esquenta no Setor Comercial Sul, onde fica a maioria das sucursais (e alguns bares fedidos onde os jornalistas vão aliviar a tensão), atinge altas temperaturas na Esplanada dos Ministérios e ferve na Praça dos Três Poderes, onde coleguinhas de jornais concorrentes viram feras uns com os outros.

Fazer a cobertura diária de um ministério é um teste para o coração. Se um repórter se levanta de sua mesa e vai ao banheiro, imediatamente os outros trocam olhares preocupados. Será que ele foi buscar um furo? A pergunta é telepática. Um dos pré-requisitos de um bom profissional é a paranormalidade, muito útil para se preverem fatos políticos óbvios. Saber ler nos olhos de uma autoridade que tudo aquilo que ela está dizendo é mentira também é essencial, mas para isso, pensando bem, ninguém precisa ser paranormal. O triste do jornalismo é que se publica, em nome da objetividade dos fatos, apenas o que a autoridade fala, não o que transmite no olhar.

Bom repórter, segundo os manuais, é aquele que fura os coleguinhas, tem trânsito livre nos corredores do poder, é chamado pelo nome pelas autoridades do primeiro escalão numa coletiva, e almoça com a fonte. Nas redações, jornalista que trabalha 16 horas por dia e atende sem reclamar às convocações para trabalhar no fim de semana provoca orgasmos. Nunca recebe hora extra, porque jornalismo é, acima de tudo, uma religião.

Os jornalistas que vivem em Brasília se dividem em dois grupos. O primeiro é o dos que acreditam que o jornalismo é a única coisa importante da vida. Aspiram intimidade com o poder e, às vezes, cargos. Nas redações, às vezes conquistam efêmeras chefias que lhes dão certos privilégios sobre os repórteres. Só que todo jornalista chefe é também chefiado, e o chefe supremo não é, na verdade, jornalista: é empresário.

O segundo grupo é o dos que chegam aos 30, 40, 50 anos e se aposentam (isto quando não morrem antes, geralmente por problemas cardíacos) sempre repetindo para si mesmos que um dia abandonarão o jornalismo para "fazer o que gostam". Eles geralmente pensam que gostam de coisas exóticas. Sonham em morar numa praia deserta, criar cabras, abrir um restaurante, comprar um sítio, escrever peças de teatro. Mas são uns ingênuos. O que gostam mesmo é do jornalismo, só que não sabem disso.

Jornalista sofre, mas se diverte. Nada como uma festa no sábado, onde rola muito uísque, vinho e outras coisas. De vez em quando, alguém come alguém. A classe é muito fofoqueira e todo mundo fica sabendo, mas ninguém liga para isso. Até dá status. Afinal, quase todos têm casos mal resolvidos na vida. Jornalista se julga a elite da raça, e não é fácil encontrar um(a) companheiro(a) à altura. A solução é a rotatividade.

É uma pena que os jornais sejam tão sérios e quadradões. Se os repórteres escrevessem sobre tudo o que vivem, a imprensa seria muito mais divertida. Os repórteres continuariam paranóicos, mas pelo menos os leitores descobririam que ser jornalista é como ser mãe: é padecer no paraíso.





3) CHAPEUZINHO VERMELHO NA MÍDIA



Como seria a estória de Chapeuzinho Vermelho nas manchetes da imprensa brasileira hoje:




JORNAL NACIONAL

(William Bonner): Boa-noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem..

(Fátima Bernardes): ... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia.



FANTÁSTICO

(Glória Maria): Que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo. Não é mesmo,querida?



CIDADE ALERTA

(Datena): Onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? A menina ia para a casa da avozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva! Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!Põe na tela! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não!! Põe na tela! Tem um "link" para a floresta, diretor?



ÉPOCA


Chapeuzinho exclusivo: "Acho que não foi tão perigoso assim"




CLÁUDIA

Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.



NOVA

Dez maneiras de levar um lobo à loucura.



MARIE-CLAIRE


Na cama com o lobo e a vovó.



O ESTADO DE S. PAULO


Fontes confirmam que o Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.




FOLHA DE SÃO PAULO


Legenda da foto: "Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador". Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.



VEJA

EXCLUSIVO! Ações do Lobo eram patrocinadas pelo governo Lula e o PT.


PÁGINAS AMARELAS DA VEJA

"Está claro que houve tentativa de quebra de sigilo bancário da Chapéu por parte de Dilma e Tasso Genro. Eles têm que cair. " - Arthur Virgílio



ESTADO DE MINAS

Chapeuzinho come o lobo enquanto o lenhador vai pra floresta com a vovó.



ZERO HORA

Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.



AGORA

Sangue e tragédia na casa da vovó!



CARAS


(Ensaio fotográfico com Chapéuzinho na semana seguinte) Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: "Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa."





PLAYBOY:(Ensaio fotográfico no mês seguinte)


Veja o que só o lobo viu!



ISTOÉ

Gravações revelam que lobo foi assessor de influente político de Brasília.




G MAGAZINE: (Ensaio fotográfico com lenhador): "Lenhador mostra o machado".


Matéria: Lenhador mata o lobo e mostra o pau!




JORNAL DO ESTADO


Requião diz que lobo era agente da Monsanto e estava querendo embarcar soja transgênica pelo Porto de Paranaguá, enquanto que Chapeuzinho Vermelho queria cobrar pedágio para visitas à casa de sua avó. E que, graças a eficiência da polícia do Paraná, foram ambos presos numa batida na Vila Pinto.




O ESTADO DO PARANÁ


Ministério Público está investigando se Chapeuzinho e o Lobo são sócios de Toni Garcia.



GAZETA DO POVO : Leia tudo, amanhã, nos Classificados da Gazeta.



O FUXICO


A toca do Lobo era na mata atrás da casa do Marcos Valério.

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